Torná-los aptos ou protegê-los?
Tudo bem contigo? Espero que tenhas passado um santo e abençoado natal nesse 2022. A pergunta do título veio de uma reflexão minha enquanto pai: devo fazer de tudo para que meus filhos estejam seguros ou agir de maneira a torná-los mais fortes (física, mental, social e emocionalmente) para enfrentar os obstáculos da vida? Essa mesma pergunta eu quero trazer aqui e colocá-la no contexto da relação treinador/atleta. Como e com que objetivo você os treina? Penso que a reflexão sincera sobre isso seja muito enriquecedora no nosso processo de desenvolvimento pessoal e profissional.
Nossa sociedade atual, de maneira geral, está obcecada com proteção (o COVID exacerbou isso ainda mais). Existem pais que não tratam do tema morte com seus filhos. Outros se endividam para comprar presentes com o intuito de não frustrar sua prole. Fazem de tudo para viver em uma bolha de “suposta proteção”. Digo suposta proteção porque “mesmo se fosse possível banir permanentemente tudo de ameaçador - perigoso (e, portanto, tudo que é desafiador e interessante) isso significaria que outro perigo emergiria: o infantilismo permanente e a inutilidade absoluta dos seres humanos. Como poderia a natureza do homem atingir seu potencial total sem desafios e perigos?” - Jordan Peterson, 12 regras para a vida, pag 48. Nem DEUS agiu assim pois até no paraíso original (jardim do Éden) havia o perigo em forma de serpente. O excesso de proteção resulta em fraqueza. Tempos fáceis formam homens frágeis, que criam tempos difíceis, que formam homens fortes, que criam tempos fáceis. Nenhuma geração teve tanto à disposição e nenhuma foi tão fraca para encarar a vida.
Mas vamos ao campo. Quando o treinador ao invés de criar situações (treinos) que irão desafiar seus jogadores a resolver os problemas do jogo, insiste em “dar a receita” (sua receita, baseada em sua “experiência”) e cobrar que todos a executem, ele está tornando seu jogador mais apto? Quando durante o treino ou jogo ficamos falando sem parar “toca aqui, inverte, fecha, agora sobe a pressão, passa a bola, vai pra cima, não faz isso, etc” o que estamos comunicando implicitamente aos nossos comandados? Que o resultado não é responsabilidade deles, pois apenas seguem ordens. Talvez no curto prazo isso faça você ganhar alguns jogos, mas será que no longo prazo compensa? Se a repetição é a mãe da perfeição, como o atleta irá tomar melhores decisões se ele não é estimulado a decidir?
A diferença entre o remédio que cura e a droga que mata é a dose. Seu objetivo é a longo ou curto prazo? Para cada situação e para cada contexto existe uma “dose” de autonomia necessária. Temos que ter muita atenção para, a partir do entendimento desse contexto específico, determinar como vamos atuar para conseguir o que estamos buscando.
Na minha prática busco criar as melhores condições para que cada atleta com o qual trabalho melhore, independente do tempo em que trabalhamos juntos. Mas sempre ressalto que o maior responsável por essa melhoria é o próprio atleta, pois acredito que fazê-lo assumir essa responsabilidade é o que, no fim das contas o fará mais forte e mais bem preparado para o jogo e para a vida.
Forte abraço e que DEUS te abençoe. Hoje e sempre.
Marcelo Salazar – treinador de futebol
26.12.2021.
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