Tudo bem contigo e família?
Em tempos de confinamento, eu gostaria de te fazer uma pergunta. Já ouviu falar no conceito de “profissional T” ou “T shape professional”? Sabes como isso pode te fazer uma pessoa melhor?
Vamos lá. Como vemos na foto, a parte de cima (horizontal) do “T” seriam os conhecimentos rasos/gerais que temos. No caso dos treinadores de futebol, me vem à cabeça vendas, matemática, criatividade, capacidade de aprendizagem e adaptação, investimentos, nutrição, política, história, computação, geografia. fisioterapia, lógica, idiomas, medicina, etc. É a parte generalista. Que pode (e deve) ser desenvolvida com uma atitude curiosa, já que a curiosidade aumenta nosso repertório, e esse aumento é um fator que nos leva a ter melhores condições de abordar e resolver problemas complexos que são inerentes às nossas carreiras.
Já na parte vertical, está o conhecimento do especialista. Gestão de pessoas, linguagem corporal, treinamento de campo, oratória, tática, coaching, planificação de treinamentos, didática, metodologias de treinamento, gerenciamento de crises, comunicação estratégica, autoconhecimento, entre outros. É o que nos diferencia e é onde temos que focar nossa atenção na maioria do tempo.
Quanto mais ampla a parte horizontal e mais profunda a parte vertical, mais conexões podem ser feitas entre elas, ampliando assim o leque de opções que esse treinador terá para resolver problemas, dar soluções criativas e ser um profissional desejado no mercado.
Se trabalharmos esse aspecto também com nossos jogadores, eles certamente irão melhorar o rendimento não só na vida em geral como também no campo. Atletas inteligentes entendem mais fácil o que lhes é pedido e por vezes trazem soluções. Devemos estimulá-los a “ir além” do futebol. Bernardinho conta em um de seus livros como o “banco de escola” ajuda a formar melhores atletas. Hoje em dia, com a chegada da tecnologia, há uma infinidade de possibilidades online para cada um buscar o conhecimento e aprender o que quiser sobre os mais diversos temas. Só não os busca quem não quer.
Já havia ouvido falar sobre esse conceito? O que achou?
Forte abraço e que Deus te abençoe hoje e sempre.
Marcelo Salazar - treinador de futebol
10.04.2022
Bom dia, boa tarde, no noite! Tudo bem?
A você que ao longo do ano recebe minhas reflexões acerca da vida e do futebol, desejo saúde e paz 2022. Que a vida te sorria. E que aproveites os momentos difíceis para crescer e se transformar.
Trago uma reflexão magistral do grande e saudoso RUBEM ALVES acerca desse tema. Espero que goste e desfrute da pequena leitura.
Que Deus te abençoe hoje e sempre.
“O FOGO QUE NOS TRANSFORMA"
- Por Rubem Alves -
Como o milho duro, que vira pipoca macia, só mudamos para melhor quando passamos pelo fogo: as provações da vida. A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens, para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, mas que, pelo poder do fogo, podemos, repentinamente, voltar a ser crianças!
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. O milho de pipoca que não passa pelo fogo, continua a ser milho de pipoca. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
O fogo é quando a vida nos lança em uma situação que nunca imaginamos. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso dos remédios que apagam o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro, ficando cada vez mais quente, pense que a sua hora chegou: “vou morrer”.
De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Mas subitamente, a transformação acontece: pum! - e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Mas existem pessoas PIRUÁS que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida, perdê-la-á." - A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás, que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...”
MARCELO SALAZAR - Treinador de futebol
Torná-los aptos ou protegê-los?
Tudo bem contigo? Espero que tenhas passado um santo e abençoado natal nesse 2022. A pergunta do título veio de uma reflexão minha enquanto pai: devo fazer de tudo para que meus filhos estejam seguros ou agir de maneira a torná-los mais fortes (física, mental, social e emocionalmente) para enfrentar os obstáculos da vida? Essa mesma pergunta eu quero trazer aqui e colocá-la no contexto da relação treinador/atleta. Como e com que objetivo você os treina? Penso que a reflexão sincera sobre isso seja muito enriquecedora no nosso processo de desenvolvimento pessoal e profissional.
Nossa sociedade atual, de maneira geral, está obcecada com proteção (o COVID exacerbou isso ainda mais). Existem pais que não tratam do tema morte com seus filhos. Outros se endividam para comprar presentes com o intuito de não frustrar sua prole. Fazem de tudo para viver em uma bolha de “suposta proteção”. Digo suposta proteção porque “mesmo se fosse possível banir permanentemente tudo de ameaçador - perigoso (e, portanto, tudo que é desafiador e interessante) isso significaria que outro perigo emergiria: o infantilismo permanente e a inutilidade absoluta dos seres humanos. Como poderia a natureza do homem atingir seu potencial total sem desafios e perigos?” - Jordan Peterson, 12 regras para a vida, pag 48. Nem DEUS agiu assim pois até no paraíso original (jardim do Éden) havia o perigo em forma de serpente. O excesso de proteção resulta em fraqueza. Tempos fáceis formam homens frágeis, que criam tempos difíceis, que formam homens fortes, que criam tempos fáceis. Nenhuma geração teve tanto à disposição e nenhuma foi tão fraca para encarar a vida.
Mas vamos ao campo. Quando o treinador ao invés de criar situações (treinos) que irão desafiar seus jogadores a resolver os problemas do jogo, insiste em “dar a receita” (sua receita, baseada em sua “experiência”) e cobrar que todos a executem, ele está tornando seu jogador mais apto? Quando durante o treino ou jogo ficamos falando sem parar “toca aqui, inverte, fecha, agora sobe a pressão, passa a bola, vai pra cima, não faz isso, etc” o que estamos comunicando implicitamente aos nossos comandados? Que o resultado não é responsabilidade deles, pois apenas seguem ordens. Talvez no curto prazo isso faça você ganhar alguns jogos, mas será que no longo prazo compensa? Se a repetição é a mãe da perfeição, como o atleta irá tomar melhores decisões se ele não é estimulado a decidir?
A diferença entre o remédio que cura e a droga que mata é a dose. Seu objetivo é a longo ou curto prazo? Para cada situação e para cada contexto existe uma “dose” de autonomia necessária. Temos que ter muita atenção para, a partir do entendimento desse contexto específico, determinar como vamos atuar para conseguir o que estamos buscando.
Na minha prática busco criar as melhores condições para que cada atleta com o qual trabalho melhore, independente do tempo em que trabalhamos juntos. Mas sempre ressalto que o maior responsável por essa melhoria é o próprio atleta, pois acredito que fazê-lo assumir essa responsabilidade é o que, no fim das contas o fará mais forte e mais bem preparado para o jogo e para a vida.
Forte abraço e que DEUS te abençoe. Hoje e sempre.
Marcelo Salazar – treinador de futebol
26.12.2021.