- Marcelo Salazar

- 27 de dez. de 2021

Torná-los aptos ou protegê-los?
Tudo bem contigo? Espero que tenhas passado um santo e abençoado natal nesse 2022. A pergunta do título veio de uma reflexão minha enquanto pai: devo fazer de tudo para que meus filhos estejam seguros ou agir de maneira a torná-los mais fortes (física, mental, social e emocionalmente) para enfrentar os obstáculos da vida? Essa mesma pergunta eu quero trazer aqui e colocá-la no contexto da relação treinador/atleta. Como e com que objetivo você os treina? Penso que a reflexão sincera sobre isso seja muito enriquecedora no nosso processo de desenvolvimento pessoal e profissional.
Nossa sociedade atual, de maneira geral, está obcecada com proteção (o COVID exacerbou isso ainda mais). Existem pais que não tratam do tema morte com seus filhos. Outros se endividam para comprar presentes com o intuito de não frustrar sua prole. Fazem de tudo para viver em uma bolha de “suposta proteção”. Digo suposta proteção porque “mesmo se fosse possível banir permanentemente tudo de ameaçador - perigoso (e, portanto, tudo que é desafiador e interessante) isso significaria que outro perigo emergiria: o infantilismo permanente e a inutilidade absoluta dos seres humanos. Como poderia a natureza do homem atingir seu potencial total sem desafios e perigos?” - Jordan Peterson, 12 regras para a vida, pag 48. Nem DEUS agiu assim pois até no paraíso original (jardim do Éden) havia o perigo em forma de serpente. O excesso de proteção resulta em fraqueza. Tempos fáceis formam homens frágeis, que criam tempos difíceis, que formam homens fortes, que criam tempos fáceis. Nenhuma geração teve tanto à disposição e nenhuma foi tão fraca para encarar a vida.
Mas vamos ao campo. Quando o treinador ao invés de criar situações (treinos) que irão desafiar seus jogadores a resolver os problemas do jogo, insiste em “dar a receita” (sua receita, baseada em sua “experiência”) e cobrar que todos a executem, ele está tornando seu jogador mais apto? Quando durante o treino ou jogo ficamos falando sem parar “toca aqui, inverte, fecha, agora sobe a pressão, passa a bola, vai pra cima, não faz isso, etc” o que estamos comunicando implicitamente aos nossos comandados? Que o resultado não é responsabilidade deles, pois apenas seguem ordens. Talvez no curto prazo isso faça você ganhar alguns jogos, mas será que no longo prazo compensa? Se a repetição é a mãe da perfeição, como o atleta irá tomar melhores decisões se ele não é estimulado a decidir?
A diferença entre o remédio que cura e a droga que mata é a dose. Seu objetivo é a longo ou curto prazo? Para cada situação e para cada contexto existe uma “dose” de autonomia necessária. Temos que ter muita atenção para, a partir do entendimento desse contexto específico, determinar como vamos atuar para conseguir o que estamos buscando.
Na minha prática busco criar as melhores condições para que cada atleta com o qual trabalho melhore, independente do tempo em que trabalhamos juntos. Mas sempre ressalto que o maior responsável por essa melhoria é o próprio atleta, pois acredito que fazê-lo assumir essa responsabilidade é o que, no fim das contas o fará mais forte e mais bem preparado para o jogo e para a vida.
Forte abraço e que DEUS te abençoe. Hoje e sempre.
Marcelo Salazar – treinador de futebol
26.12.2021.
- Marcelo Salazar

- 5 de nov. de 2021

As 5 substituições no futebol
E aí, tudo bem contigo?
No último dia 27.10.2021, a International Board, em uma reunião com a FIFA, sugeriu que o número máximo de 5 substituições, durante uma partida de futebol, seja mantido e se torne a regra.
A alteração, de 3 para 5, foi implantada emergencialmente em 2020 visando proteger jogadores de lesões na volta aos jogos devido às paralisações decorrentes da COVID-19, mas parece que veio para ficar.
E hoje gostaria de trazer algumas reflexões a respeito do tema, que no meu modo de ver pode ser determinante na componente estratégica do jogo.
Antes de mais nada, gostaria de dizer que o fator mais importante para potencializar o bom desempenho de um time é a comunicação.
Em “futebolês” é o famoso entrosamento, ou ser capaz de “jogar de olhos fechados”.
E isso é mais facilmente conseguido com clareza de ideias, tempo/qualidade de treino e, idealmente, que os 11 melhores treinem/joguem juntos o maior tempo possível, para que a comunicação entre eles passe do nível consciente (verbal) para o nível inconsciente (não verbal).
No futsal - com substituições ilimitadas e sem necessidade de parar o jogo para fazê-las -, há treinadores que jogam com 2 quartetos fixos, alterando-os a cada determinado intervalo de tempo, buscando potencializar esse entrosamento.
E no futebol, como poderiam ser utilizadas essas substituições?
Antes de mais nada vamos aos fatores externos que podem influenciar nas decisões:
1. É benéfico criar um roteiro pré-jogo de hipotéticos cenários e respectivas substituições?
O que esses cenários levariam em consideração?
• Adversário e suas características;
• Placar do jogo (queremos mantê-lo ou alterá-lo?);
• Em que momento (minuto) serão feitas as alterações?
Como exemplo, vou trazer aqui alguns cenários de uma parada técnica para trocar 4 jogadores (já que mudar 5 de uma vez pode te deixar sem “carta na manga” caso haja um imprevisto):
1. Trocar 4 jogadores mais ofensivos e sair de um 1-4-2-3-1 (extremos de pé trocado, um 10 e um 9) para um 1-4-4-2 com extremos que busquem o fundo do campo para cruzamentos e 2 atacantes de área;
2. Trocar todos os jogadores que atuam em um lado do campo (onde você está sendo mais atacado por exemplo). Zagueiro, lateral, volante e ponta pela direita;
3. Trocar toda a linha de 4 (Ponta direita, volantes e ponta esquerda).
Alguns outros fatores para serem levados em conta:
• Foi possível treinar algum desses cenários durante a semana?
• Foi comunicado previamente ao time o que se espera com cada mudança ou isso será feito no calor do jogo?
• Com essas possibilidades a mais, pode haver mais engajamento dos jogadores nos treinos, sabendo que são opções reais de entrar e mudar o jogo?
Muitas perguntas que cabe a você responder, já que são milhares as realidades existentes nesse quesito.
Me conta aí o que você acha do tema.
Já tinhas pensado nisso?
Qual tua visão?
Abração e que DEUS te abençoe.
Marcelo Salazar – Treinador de Futebol
Licença PRO - 9148 - CBF/CONMEBOL
- Marcelo Salazar

- 2 de nov. de 2021

Você acredita em sua memória?
Tudo bem, meu amigo? Hoje trago um tema controverso no mundo do futebol e antes de entrar especificamente nele, gostaria de fazer menção ao meu amigo Pedro Medina, Uberabense, formado em odontologia e ex companheiro de equipe nos meus tempos de jogador profissional de futsal em Charleroi, na Bélgica.
Pedrinho sempre me dizia que “os jogadores só se lembram dos lances do jogo em que eles acertaram. E essa é uma das funções primordiais do treinador: mostrar os erros e propor melhorias.” Como atleta eu pude facilmente comprovar essa verdade ao assistir meus jogos no dia seguinte. Nossa memória é realmente seletiva. E hoje em dia, muitos treinadores ainda acreditam muito em sua memória, que também é seletiva.
Vou propor um teste. Peço para que você leia a seguinte sequência de palavras e preste muita atenção nelas: pirulito, azedo, açúcar, amargo, bom, sabor, dente, agradável, mel, soda, chocolate, coração, bolo, comer, torta. Releia com atenção e vagarosamente, em voz alta. Agora cubra-a com a mão enquanto continua a leitura. Seja honesto consigo mesmo. Cobriu? Vamos ao teste. Quero que você identifique qual das 3 palavras a seguir estão na lista que escrevi no início: sabor, ponto, doce. Pode ser mais de uma. Talvez todas. Ou nenhuma. Pense antes de responder. Avalie cada palavra com cuidado. Você imagina tê-la visto na lista? Formule sua resposta, descubra a lista e veja como se saiu no teste.
A grande maioria de nós se lembra com muita certeza que ponto não estava na lista. Também a maioria de nós lembra que sabor estava na lista. Mas vejamos o que acontece com “doce”. Caso você tenha se lembrado de ter visto essa palavra, isso é um pequeno exemplo do fato que nossa memória é baseada em sua recordação da ESSÊNCIA da lista que viu, e não da lista REAL.
Assim, de maneira análoga, nossa memória do que acontece em treinos e jogos está ligada à essência do que houve naquele espaço de tempo e altamente influenciada por estados emocionais decorrentes de fatores externos como arbitragem, torcida, situação na tabela, vida pessoal, etc...
Daí a importância de, ao fazer uma análise (de um jogo, treino, elenco, ou outra situação qualquer), tentar estar o mais afastado possível dessa subjetividade que condiciona nossa memória. E também ter o cuidado de ao expor aspectos que carecem de correção aos seus jogadores, ter consigo as IMAGENS que provem objetivamente que o que você está falando, de fato aconteceu.
Você, enquanto treinador ou na função você atua, confia cegamente na sua memória? Já foi traído por ela? Qual estratégia usas para não cair nessa armadilha?
Forte abraço e que DEUS te abençoe hoje e sempre.
Marcelo Salazar – Treinador de futebol
30.10.2021

















