As 5 substituições no futebol
E aí, tudo bem contigo?
No último dia 27.10.2021, a International Board, em uma reunião com a FIFA, sugeriu que o número máximo de 5 substituições, durante uma partida de futebol, seja mantido e se torne a regra.
A alteração, de 3 para 5, foi implantada emergencialmente em 2020 visando proteger jogadores de lesões na volta aos jogos devido às paralisações decorrentes da COVID-19, mas parece que veio para ficar.
E hoje gostaria de trazer algumas reflexões a respeito do tema, que no meu modo de ver pode ser determinante na componente estratégica do jogo.
Antes de mais nada, gostaria de dizer que o fator mais importante para potencializar o bom desempenho de um time é a comunicação.
Em “futebolês” é o famoso entrosamento, ou ser capaz de “jogar de olhos fechados”.
E isso é mais facilmente conseguido com clareza de ideias, tempo/qualidade de treino e, idealmente, que os 11 melhores treinem/joguem juntos o maior tempo possível, para que a comunicação entre eles passe do nível consciente (verbal) para o nível inconsciente (não verbal).
No futsal - com substituições ilimitadas e sem necessidade de parar o jogo para fazê-las -, há treinadores que jogam com 2 quartetos fixos, alterando-os a cada determinado intervalo de tempo, buscando potencializar esse entrosamento.
E no futebol, como poderiam ser utilizadas essas substituições?
Antes de mais nada vamos aos fatores externos que podem influenciar nas decisões:
1. É benéfico criar um roteiro pré-jogo de hipotéticos cenários e respectivas substituições?
O que esses cenários levariam em consideração?
• Adversário e suas características;
• Placar do jogo (queremos mantê-lo ou alterá-lo?);
• Em que momento (minuto) serão feitas as alterações?
Como exemplo, vou trazer aqui alguns cenários de uma parada técnica para trocar 4 jogadores (já que mudar 5 de uma vez pode te deixar sem “carta na manga” caso haja um imprevisto):
1. Trocar 4 jogadores mais ofensivos e sair de um 1-4-2-3-1 (extremos de pé trocado, um 10 e um 9) para um 1-4-4-2 com extremos que busquem o fundo do campo para cruzamentos e 2 atacantes de área;
2. Trocar todos os jogadores que atuam em um lado do campo (onde você está sendo mais atacado por exemplo). Zagueiro, lateral, volante e ponta pela direita;
3. Trocar toda a linha de 4 (Ponta direita, volantes e ponta esquerda).
Alguns outros fatores para serem levados em conta:
• Foi possível treinar algum desses cenários durante a semana?
• Foi comunicado previamente ao time o que se espera com cada mudança ou isso será feito no calor do jogo?
• Com essas possibilidades a mais, pode haver mais engajamento dos jogadores nos treinos, sabendo que são opções reais de entrar e mudar o jogo?
Muitas perguntas que cabe a você responder, já que são milhares as realidades existentes nesse quesito.
Me conta aí o que você acha do tema.
Já tinhas pensado nisso?
Qual tua visão?
Abração e que DEUS te abençoe.
Marcelo Salazar – Treinador de Futebol
Licença PRO - 9148 - CBF/CONMEBOL
Você acredita em sua memória?
Tudo bem, meu amigo? Hoje trago um tema controverso no mundo do futebol e antes de entrar especificamente nele, gostaria de fazer menção ao meu amigo Pedro Medina, Uberabense, formado em odontologia e ex companheiro de equipe nos meus tempos de jogador profissional de futsal em Charleroi, na Bélgica.
Pedrinho sempre me dizia que “os jogadores só se lembram dos lances do jogo em que eles acertaram. E essa é uma das funções primordiais do treinador: mostrar os erros e propor melhorias.” Como atleta eu pude facilmente comprovar essa verdade ao assistir meus jogos no dia seguinte. Nossa memória é realmente seletiva. E hoje em dia, muitos treinadores ainda acreditam muito em sua memória, que também é seletiva.
Vou propor um teste. Peço para que você leia a seguinte sequência de palavras e preste muita atenção nelas: pirulito, azedo, açúcar, amargo, bom, sabor, dente, agradável, mel, soda, chocolate, coração, bolo, comer, torta. Releia com atenção e vagarosamente, em voz alta. Agora cubra-a com a mão enquanto continua a leitura. Seja honesto consigo mesmo. Cobriu? Vamos ao teste. Quero que você identifique qual das 3 palavras a seguir estão na lista que escrevi no início: sabor, ponto, doce. Pode ser mais de uma. Talvez todas. Ou nenhuma. Pense antes de responder. Avalie cada palavra com cuidado. Você imagina tê-la visto na lista? Formule sua resposta, descubra a lista e veja como se saiu no teste.
A grande maioria de nós se lembra com muita certeza que ponto não estava na lista. Também a maioria de nós lembra que sabor estava na lista. Mas vejamos o que acontece com “doce”. Caso você tenha se lembrado de ter visto essa palavra, isso é um pequeno exemplo do fato que nossa memória é baseada em sua recordação da ESSÊNCIA da lista que viu, e não da lista REAL.
Assim, de maneira análoga, nossa memória do que acontece em treinos e jogos está ligada à essência do que houve naquele espaço de tempo e altamente influenciada por estados emocionais decorrentes de fatores externos como arbitragem, torcida, situação na tabela, vida pessoal, etc...
Daí a importância de, ao fazer uma análise (de um jogo, treino, elenco, ou outra situação qualquer), tentar estar o mais afastado possível dessa subjetividade que condiciona nossa memória. E também ter o cuidado de ao expor aspectos que carecem de correção aos seus jogadores, ter consigo as IMAGENS que provem objetivamente que o que você está falando, de fato aconteceu.
Você, enquanto treinador ou na função você atua, confia cegamente na sua memória? Já foi traído por ela? Qual estratégia usas para não cair nessa armadilha?
Forte abraço e que DEUS te abençoe hoje e sempre.
Marcelo Salazar – Treinador de futebol
30.10.2021
Curiosidades da neurociência e como aplicá-las ao futebol.
Tudo bem?
Hoje quero trazer 02 temas para nossa reflexão sobre linguagem no futebol.
Imagine que você vai no centro da cidade, para em um trailer, pega um cardápio e pede uma salada de alface com beterraba.
Agora pense que você chega num “bistrô”, pede ao “mâitre” o “menu” e escolhe comer “beterrabas grelhadas sobre o leito de alface romana.”
Estudos mostram que descrições "floreadas" não só levam você a escolher comidas descritas poeticamente, como também te levam a classificá-las como mais gostosas que pratos IDÊNTICOS descritos de maneira normal.
E aqui entra a primeira reflexão: você pensa nisso quando dá entrevistas ou quando conversa com seus diretores?
Há, talvez, essa preocupação nas suas redes sociais?
Isso no fundo tem a ver com “branding” ou criação de uma “marca”.
Já ouvi críticas ao Tite pelos termos que ele usa/usou em algumas entrevistas, assim como ouvi críticas a treinadores que não se adaptaram às novas terminologias e neologismos do futebol.
Pare e pense até que ponto a tua linguagem pode influenciar na percepção de valor que o mercado tem sobre você enquanto treinador.
O próximo tema é sobre o “efeito fluência”, que nada mais é do que o seguinte: temos duas folhas onde está descrito o mesmo exercício, com as mesmas palavras.
Você achará o exercício mais difícil e com menos probabilidade de acertar sua execução se a fonte for mais difícil de ler. Ou seja, se a forma for difícil de assimilar, isso afeta nosso julgamento quanto à substância da informação.
Chegamos à segunda reflexão: cuidado para não confundir a linguagem que se usa externamente (Imprensa, mídias sociais etc) com o que se fala internamente (staff e jogadores).
Adapte sua fala ao público com o qual você quer se comunicar e seja CLARO.
Filtre as informações que serão dadas aos jogadores.
Pense na forma (verbal, visual) como serão passadas essas informações no dia a dia de treinos e jogos.
Crie treinos simples e efetivos. Idealmente, quanto menos cones e materiais estranhos ao jogo, melhor.
Se trabalha no exterior, busque criar códigos não verbais e usar um vocabulário básico e curto para se fazer entender, além de investir em outras formas de comunicação.
Seja criativo ao buscar soluções, pois a CLAREZA na comunicação é de suma importância na criação de uma cultura de excelência.
E mais, não subestime o poder das mensagens subliminares que atingem as camadas inconscientes de nossos cérebros.
Use-as a seu favor, dentro do campo e fora dele.
O que achou? Já tinhas pensado nisso?
Forte abraço e que DEUS te abençoe, hoje e sempre.
Marcelo Salazar – Treinador de futebol
18.10.2021.
Marcelo Salazar
Treinador de futebol
Auxiliar técnico Al Nassr Saudita
Licença PRO CBF 9148
Ex atleta profissional de futsal
Licenciado em Educação Fisica
Fluente em português, inglês, francês, espanhol e árabe.